CLAUDIO MATSUNO e
NILSON SATO

Dois Explícitos

24.09.2010

Curadoria: Paulo Gallina

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Dois Explícitos

O mundo subjetivado. Para os artistas Claudio Matsuno e Nilson Sato o mundo é um objeto de apropriação continuada pelo individuo que deve ser compreendido nesse movimento de existir fora e dentro de cada um ao mesmo tempo. Se, ao apresentar esse tema, Matsuno constrói sua obra pela desordem e acumulação volátil e incontrolável, Sato por sua vez propõe vermos o mundo através da lente objetiva de uma câmera fotográfica re-interpretada em um desenho de um preciosismo tal que poucos ainda hoje apresentam.

Diferença básica entre os artistas que acaba por separá-los, mas não completamente, o erro é um elemento ativador em suas obras. Para Claudio Matsuno ele é parte integrante de seu desenho. O erro da imagem que não torna o mundo uma abstração e tampouco figura uma narrativa qualquer é um elemento central na obra desse artista, em oposição a Nilson Sato que fala textualmente a não pertinência desse mesmo procedimento em sua produção.

Cláudio Matsuno excita e satura com sua instalação site-specific o órgão humano do olhar. Para construir, com pequenos detalhes, jogos imagéticos e verbais ampliando o “espectro” [da história da arte] coberto por sua obra. Matsuno trança uma teia que, cada vez mais, enrola o observador, que antes estava apartado daquele trabalho, para, a partir de agora, se verá entrelaçado em suas imagens, seus signos e suas narrativas quase oníricas criadas exatamente pela subjetivação do mundo.

Por sua vez Nilson Sato propõe que olhemos uma tela fotográfica e uma tela vazia. Para um olhar desatento essa afirmação seria verdadeira, mas ao pararmos diante desses quadros surgem as questões: Mas como pode uma tela desenhada pela mão de um homem ser fotográfica? E aquela outra está mesmo vazia? A sensação de uma cor preenche a tela vazia? A expressão de uma sensação, um sentimento até, por um método que não deixa a marca da pincelada impedem que aquilo seja a pura e simples reprodução fotográfica. O que Sato estará fazendo então? Parece-me que ele está a conciliar a questão da pintura com a da fotografia, a pergunta clássica de: o que é mais real? Qual desses processos é uma verdade maior? Sato parece responder: Nenhuma. Nada é mais real, nenhuma é uma verdade maior. Porque a verdade é subjetiva.

Assim Nilson Sato e Claudio Matsuno formam Dois Explícitos uma exposição que trabalha métodos muito distantes de se indagar uma mesma questão: estará o mundo dentro do homem e subjugado à razão ou estaria o homem dentro do mundo e, por sua vez, subjugado ao caos, tentando dar sentido a uma sobreposição aleatória de fatos que não necessariamente mantém uma relação de sentido entre si? Como se suas imagens fossem duas pontas de uma linha que, no infinito, se encontram para formar o circulo que originalmente projetaram.

Paulo Gallina
Crítico de Arte