... por que qualquer SEMELHANÇAS é PURA coincidência?

29.07.2017

Curadoria: Andrés Hernández

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As obras produzidas em diferentes suportes e técnicas, e com pontos de partida diferentes no processo de criação, abordam a fragilidade das relações do Homem com seu mundo interior, assim como apresenta interferências do “outro” nas atitudes do “eu” e vice-versa. Os trabalhos, na exposição, apelam para a representação que leva ao estranhamento, e a reação do público interpela a desconfiança, as respostas, as vivências, a decepção…

A circulação do espectador pelo recinto expositivo e a sua interação espacial e sensorial com as obras expostas oferece a possibilidade de mudança de comportamento e reação do visitante ao se deparar com diversas opções de resgate e identificação de suas vivências e experiências.

A projeção espacial e a abordagem sensorial das obras na exposição conduzem à generalização de representações ou simulações de atitudes comuns e inesperadas.

Esta materialidade sensorial oferecida e o tempo de associação e apropriação das referências subjetivas estabelecem uma dualidade única, fomentando um processo de hibridação que a partir de uma projeção coletiva desdobrasse em afluentes particulares.

Propõe-se o quase, que predomina sobre a certeza e a confirmação. O quase sou eu! O quase e o é transitam por dimensões que ultrapassam realidade e vivência, uma realidade que circula por interfases de verdade e ficção a partir das lembranças, das vivências pessoais e da relação de cada um com cada obra, além da temporalidade da possível realidade em discussão em cada uma delas.

Nesse sentido, o quase vem do complemento que o espectador precisa estabelecer para que a obra se concretize em si mesma. Materializasse, assim, o tempo de expansão do próprio tempo e da busca ou espera por um resultado. O tempo se fragmenta em intervalos de registro que podem provocar uma fragilidade sequencial de associações imediatas e gerais. Isso sem que a relação obra / espaço fragilize a possibilidade da execução temporal dos projetos apresentados.  

As obras estabelecem uma relação entre os limites e a instabilidade do instável: a espera, o magnetismo sensorial do que poderia acontecer. Sensações reforçadas pelos acessórios que apelam para o aparelho sensitivo do visitante, oferecendo horizontes comuns e levando-o à formulação de perspectivas e conclusões diferentes. Tais acessórios referem-se aos suportes utilizados para a execução das obras; entendam-se como acessórios os aparelhos e mecanismos de projeção, fixação e adequação das obras no espaço da galeria.

Trata-se de referências à espera, ao desejo, à magnitude do fato, à inquietude e ao desequilíbrio que a tensão espaço-tempo provoca. As obras na exposição propiciam a representação literal de gestos, fisionomias adotadas e atitudes do ser humano perante o fato vivenciado. Essa representação surge a partir de situações que levam o espectador a imergir, de forma metafórica, simulada ou real, nos trabalhos em exposição, e a se identificar com a singularidade do conjunto.

É a partir desse processo de imersão que podem emergir a surpresa, a ilusão, a decepção, o otimismo, a proteção, ou o desejo de passar despercebido, como opções subjetivas e práticas que as obras na exposição oferecem. O espectador pode colocar em xeque a própria experiência do artista, ao tomar como suas as referências deste. Ao mesmo tempo, isso faz com que cada artista converta seus motores utópicos em sensores reais, revelando-se assim uma fragilidade perante a evidência do inusitado e das referências pessoais no tempo, no espaço e na recepção sensorial das obras.

Ação e reação num processo duplo e reversível de criação dão o matiz à exposição. A duplicidade do processo se manifesta de um lado nas propostas dos artistas e do outro na reação e apropriação do público do discurso atemporal e subjetivo de cada proposta. Esse processo abrange também a prospecção que não se limita, no projeto, à apresentação de obras de jovens artistas e de obras produzidas especificamente para a exposição, e abarca as possibilidades de interação que as obras oferecem entre elas e, sobretudo, entre o público e cada uma das obras expostas.

Andrés I. M. Hernández
Curador e crítico de arte
São Paulo, dezembro 2010

Alexis Iglesias, Andrey Zignnatto, Angella Conte, Antonio Miranda, Bettina Vaz Guimarães, Bob Wolfenson, Carlito Carvalhosa, Carlos Fajardo, Cristina Rocha, Danilo Garcia, Jorge Feitosa, Liam Porisse, Lícia Chaves, Lygia Eluf, Maíra Ortins, Diego Castro, Ding Musa, Del Pilar Sallum, Esther Casanova, Fernanda Izar, Marisa Martins Carvalho, Mônica Nador, Nadín Ospina, Newman Schutze, Renato Pera, Rita Holcberg, Rochelle Costi, Rodrigo Andrade, Sergio Niculitcheff, Valéria Menezes.