Motores utópicos,
sensores reais

10.02.2011

Curadoria: Andrés Hernández

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As obras produzidas em diferentes suportes e técnicas, e com pontos de partida diferentes no processo de criação, abordam a fragilidade das relações do Homem com seu mundo interior, assim como apresenta interferências do “outro” nas atitudes do “eu” e vice-versa. Os trabalhos, na exposição, apelam para a representação que leva ao estranhamento, e a reação do público interpela a desconfiança, as respostas, as vivências, a decepção…

A circulação do espectador pelo recinto expositivo e a sua interação espacial e sensorial com as obras expostas oferece a possibilidade de mudança de comportamento e reação do visitante ao se deparar com diversas opções de resgate e identificação de suas vivências e experiências.

A projeção espacial e a abordagem sensorial das obras na exposição conduzem à generalização de representações ou simulações de atitudes comuns e inesperadas.

Esta materialidade sensorial oferecida e o tempo de associação e apropriação das referências subjetivas estabelecem uma dualidade única, fomentando um processo de hibridação que a partir de uma projeção coletiva desdobrasse em afluentes particulares.

Propõe-se o quase, que predomina sobre a certeza e a confirmação. O quase sou eu! O quase e o é transitam por dimensões que ultrapassam realidade e vivência, uma realidade que circula por interfases de verdade e ficção a partir das lembranças, das vivências pessoais e da relação de cada um com cada obra, além da temporalidade da possível realidade em discussão em cada uma delas.

Nesse sentido, o quase vem do complemento que o espectador precisa estabelecer para que a obra se concretize em si mesma. Materializasse, assim, o tempo de expansão do próprio tempo e da busca ou espera por um resultado. O tempo se fragmenta em intervalos de registro que podem provocar uma fragilidade sequencial de associações imediatas e gerais. Isso sem que a relação obra / espaço fragilize a possibilidade da execução temporal dos projetos apresentados.  

As obras estabelecem uma relação entre os limites e a instabilidade do instável: a espera, o magnetismo sensorial do que poderia acontecer. Sensações reforçadas pelos acessórios que apelam para o aparelho sensitivo do visitante, oferecendo horizontes comuns e levando-o à formulação de perspectivas e conclusões diferentes. Tais acessórios referem-se aos suportes utilizados para a execução das obras; entendam-se como acessórios os aparelhos e mecanismos de projeção, fixação e adequação das obras no espaço da galeria.

Trata-se de referências à espera, ao desejo, à magnitude do fato, à inquietude e ao desequilíbrio que a tensão espaço-tempo provoca. As obras na exposição propiciam a representação literal de gestos, fisionomias adotadas e atitudes do ser humano perante o fato vivenciado. Essa representação surge a partir de situações que levam o espectador a imergir, de forma metafórica, simulada ou real, nos trabalhos em exposição, e a se identificar com a singularidade do conjunto.

É a partir desse processo de imersão que podem emergir a surpresa, a ilusão, a decepção, o otimismo, a proteção, ou o desejo de passar despercebido, como opções subjetivas e práticas que as obras na exposição oferecem. O espectador pode colocar em xeque a própria experiência do artista, ao tomar como suas as referências deste. Ao mesmo tempo, isso faz com que cada artista converta seus motores utópicos em sensores reais, revelando-se assim uma fragilidade perante a evidência do inusitado e das referências pessoais no tempo, no espaço e na recepção sensorial das obras.

Ação e reação num processo duplo e reversível de criação dão o matiz à exposição. A duplicidade do processo se manifesta de um lado nas propostas dos artistas e do outro na reação e apropriação do público do discurso atemporal e subjetivo de cada proposta. Esse processo abrange também a prospecção que não se limita, no projeto, à apresentação de obras de jovens artistas e de obras produzidas especificamente para a exposição, e abarca as possibilidades de interação que as obras oferecem entre elas e, sobretudo, entre o público e cada uma das obras expostas.

Andrés I. M. Hernández
Curador e crítico de arte
São Paulo, dezembro 2010

Alexis Iglesias, Danilo Garcia, Elizabeth Cerejido, Kenji Higashi, Marianne Flotron e Nilson Sato