Wilma Kun

Interlude for a Selfportrait

07.10.2011

  • Obras
  • Texto
  • C.V.

Wilma Kun “ Sobre a sombra das silenciosas identidades”.  Antonello Tolve

“A identidade do retrato é no retrato mesmo” . Jean-Luc Nancy

Expor-se ao mundo, mostrar a própria intimidade, distender a própria interioridade na procura do outro.

Aceitar a diversidade e os seus mil voltos. E depois, ainda, estrofler a subjetividade até criar uma narração silenciosa onde o sujeito apresenta, no entanto, “a sua igualdade  e a sua alteridade em uma única identidade onde o nome” tinha avisado Nancy, é, simplesmente “o retrato”¹.

Quase a encontrar um ponto de equilíbrio  entre o aberto e o fechado, entre o Innen e o Aussen (Freud), entre o interno e o externo justamente, entre a interioridade e a exterioridade, entre o público e o particular, Wilma Kun propõe uma linha estética que faz da identidade ( e da sua reconstrução), da sensualidade e da memória coletiva o espaço triunviro de uma reflexão intesa a restabeleçer uma relação com o ser no interno de um sistema planetário de natureza fragmentada. De uma fragmentação que é o núcleo e o coágulo, reflexão urgente do panorama atual da vida planetária.

Redefinindo a individualidade – e com a individualidade, a originalidade, a singularidade, a particularidade do indivíduo – a artista empenha- se na pesquisa de uma verdade escondida, de un discurso antropológico, que lê as evoluções da família humana, as metamorfoses do próprio sé dentro de um sistema que muda continuamente, de um evoluir das coisas e de um cotidiano que garba numerosas civilidades e culturas. O seu trabalho, na verdade, abre janelas entre a memória pessoal e coletiva, para colocar luzes na heterogeneidade do mundo ( que seja esse sexual ou simplesmente intelectual), sob os ritmos biológicos onde o corpo vivente se deixa tratar como corpo entre os corpos, sugeriu Plessner², e a palavra unidade põe em causa também aquela de multiplicidade.
Através  de manobras Alterorgânicas ( que acenam à parábola estética do Post Human) e o paciente coser que recordam à memória alguns expedientes caros a Louise Bourgeois e a Maria Lai, Wilma Kun constrói espaços de reflexões sobre a coletividade e sobre à comparticipação, sobre a variedade.

Em um mundo que se apresenta como uma espécie de tapete persa ricamente e misteriosamente variegado. Cenas de natureza familiar, auto-retratos colocados em contextos culturais  disforme ( as vezes com griffe bordados a mão). Outros, ainda, que mostram somente a pele – o extreno – que se dá ao mundo, com uma necessária cintura de segurança, para evitar a transparência do próprio existir e simular, assim a típica identidade fluida e múltipla que gera o espaço virtual. Através de uma série de trabalhos exemplares a artista cria uma potente reportagem antropológica que se faz metáfora da vida condicionada, questa, da um governo mundial, onde o homem é, da tempo; cidadão do mundo.

Body Portrait (2000), Look at me(2011), Mirrors (2011), Identity ( maravilhosa série de 32 desenhos numerados, realizados em 2011), Memories 3# (2009), uma instalação escultural que mostra três crianças com a mãe sobre um colchão de latex, quase a indicar o calor da intimidade familiar.

Os diferentes Interlude for a Selfportrait (1#,2#,3#,4# e 5#) de 2010 – 2011 ou Unburied 1#. Reality perceived, um vídeo que atraversa as várias fases do trabalho. E pois, ainda, os vigorosos trabalhos da série Mask (2011) e aqueles da série Sibyl ( vermelho,  ouro e amarelo), todos do 2011. São somente um elenco mínimo das obras – concatenadas entre elas – através as quais Wilma Kun constrói um verdadeiro e próprio work in progress, uma polifonia que mostra uma fissura entre a obra e o seu público para  estruturar um diálogo inevitavelmente fracassado. Um diálogo onde o familiar se faz, gradualmente, outro. Composição, verificação, recherche, de um estado emocional em continua metamorfose. Mas também, elaboração de um discurso que mira fazer e desfazer, com elegância, um diálogo indispensável com os outros. Que mira criar um senso dos sensos, para dizer como Erwin Straus. Que tem como objetivo reconhecer a multiculturalidade do mundo para exigir um forte e maduro senso de identidade.

[1]          J.-L. Nancy, Le Regard du portrait, Éditions Galilèe, Paris 2000, p. 20.
2          H. Plessner, Anthropologie der Sinne, Suhrkamp Verlag, Frankfurt am Main 1980.
3          R. Kapuściński, Ten Inny, Wydawnictwo Znak, Kraków 2006.
4          S. Turkle, Life on the screen: Identity in the age of the Internet, Simon & Schuster, New York 1996.
5          E. Straus, Vom Sinn der Sinne. Ein Beitrag zur Grundlegung der Psychologie, Springer, Berlin-Göttingen-Heidelberg 1956.

Antonello Tolve (Melfi 1977), crítico de arte e curador independente. Pesquisador da Universidade de Salerno, Itália, em Métodos e metodologias de pesquisa de arte histórica e arqueológica, é um estudioso de experiências artísticas e das teorias críticas do final do século XX, com particular atenção para a relação entre a arte, a crítica de arte, e as novas tecnologias. Jornalista, colaborador de várias publicações do setor. Curatela de exposições em espaços públicos e privados, na Itália e no exterior, bem como de catálogos de artistas, trabalhando com a Fundação Filiberto Menna, Salerno. Tem publicado numerosos ensaios e entre os quais  o livro “Jardins de Utopia. Aspectos da teatralidade na arte do século XX “ (Salerno 2008). Dirige a série de livros da coleçao “Now” (EDI.COM) e, junto com Stefania Zuliani, para a Editora  Plectica , a coleçao “Il presente dell’Arte”.

Wilma Kun

Formação
2001 Fine Arts Academy Brera, Milão, Itália
1989 Bacharel de Artes Visuais, Especialização em escultura – Faculdade Santa Marcelina, São Paulo, Brasil.

Exposições Individuais
2011 Arte sin Limites - Den Hague NL
2010 Galeire De Aanschouw - Rotterdam NL Kunst & Complex -Rotterdam NL
2009 Kaus Australis – Open Studio, Rotterdam,NL.
2005 Artra, Milan, text Gabi Scardi, It.
2002 Artra, Milan ,It.
2001 Contemporary Art Center Spazio Umano, curator Enrico R. Comi, Milan, It.
1999 Artra, Milan, Text Francesco Lucchini, It.

​Exposições Coletivas
2011
Skin Gallery -Brescia - Italia
"Verlicht" -Arte sin Limites - Den Hague NL
"Hoogtij#25" - Arte sin Limites gallery - Den Hague NL
"Struktura" - Mavv - Rotterdam NL
2010
"Freedom" - Arte sin Limites Gallery - Den Hague NL
"Miocinesia nell'arte d'oggi" curator Antonello Tolve- Salerno IT*
"Crtl + Alt + B" Curator Dagmar de Pooter - Antwerp B
"Shaved or Natural" -curator Abner Preis , Gallery 162A Rotterdam NL
2009
"Dangerous Liasons" Presentation Albert Van Der Weide, Kunstenlab, Deventer NL
"Rair 2#" Rotterdam, NL Italian Restyle" curator Barbara Fragogna, Arthouse Tacheles New Gallery,Belrlin, G *
"Don’t touch me" curators Elena Privitera, Michele Bramante, Gallery En Plein Air ,Contemporary Art, Pinerolo (TO), It.*
"Godart 2009" Museum Laboratorio Ex Manifattura Tabacchi, Città Sant’Angelo (Pescara), It
"HEP- Australia"- Alison Williams: Director of HEP - Guildford Lane Gallery,, Melbourne - Australia