Fernando Castioni

Under Construction

08.06.2018

Curadoria André Fernandes

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Under constrution [

A máxima alegria não consiste em se saber de todo, mas em ser parte do que se sabe.
M.Montaigne

Em seu trabalho visual, Fernando Castioni parece estar à procura de uma forma plástica para a condição humana. Essa procura se inscreve na temática de seus trabalhos consubstanciada principalmente numa fantasia residual de rostos estranhos e perfis corporais muitas vezes incompletos. Essa condição se configura, por um lado, na instabilidade de experimentar e não conhecer o ser e o fazer, por outro lado, no contato com uma tradição afeita à guerra, na qual a existência está sob risco constante. É, sem dúvida, a tentativa de construção de uma ponte ética, cuja dialética incita o encontro entre a interioridade do artista e o mundo exterior, a fim de que se efetue algum sentido.

A construção é, portanto, no trabalho do artista, uma modalidade de experiência de conhecer que nunca se completa, mas que de alguma forma se repete de modo análogo pela diferença expressa na atividade: a ponto de em meio a seleção de trabalho para esta exposição, o artista afirmar que ainda gostaria de alterar substancialmente a tela Sem título (2013);

a mesma figura que aparece repetidas vezes colada em Construção (2014), desenho este produzido por Franz Kafka. Apesar das apropriações visuais e literárias, sua investigação tem início, fisicamente, ao rés chão como costuma pintar, e dela aos poucos se afasta na experimentação na repetição pela diferença. Nesse sentido, a identidade do ponto de partida se descola no ponto de chegada, embora ainda mantenha relações, que não são simplesmente as mesmas propostas nas poéticas de seus interlocutores.

Sendo assim, o processo da construção, movido pela curiosidade, instaura comparações, disjunções e descartes, num movimento pendular de aproximação e afastamento com a única matéria de que dispomos, o corpo. E esse impulso leva a cabo a transformação de matéria em forma plástica. Cabe, por fim, destacar a depuração de todo adorno, mantendo-se preso ao essencial da plástica pictórica que são a superfície e o formato da tela e as propriedades das tintas, cujo tratamento progride no mesmo sentido da temática, numa espécie de mimetismo debastado, conformando uma espécie de ascetismo estóico.

André Fernandes, 2018