Oscilações Recíprocas

19.10.2012

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A mostra “Oscilações Recíprocas” dos artistas Alexis Iglesias, Luciano Zanette e Marcelo Armani trás como investigação processos distintos e híbridos, intento que habita o argumento de provocar e perverter noções preestabelecidas da história da arte. 

Alexis Iglesias expõe pinturas que por sua vez combinam objetos díspares do cotidiano com elementos de naturezas distintas como, por exemplo, um ventilador a um inseto ou ainda a um “lustre”, acometidos por verniz. Noutra pintura mostra objetos que se unem entre côncavos e convexos, nesse fluxo de absorção e devolução, formados sob a ideia de oscilação. Em ação homeomorfa revela um universo que se afeta por diálogo com os outros dois artistas da exposição. 

Luciano Zanetti procurando o lugar do corpo cita-o e o constrói como ausência em suas esculturas e instalações. Em uma de suas esculturas faz uma fusão da Military Chair, que tem o elemento de “barricada” junto à perna de estrutura de sua obra cadeira, parte que hesita por fixar-se. Ele reflete, a propósito, sobre aqueles semelhantes constructos, pintados por Alexis, onde o corpo ausente e vazio penetra, por via da subjetividade, toda pintura. Dedica-se à ergonomia das formas, advindas da mesma memória do corpo, assim como nas obras de Alexis.

​Marcelo Armani no entanto gera sons que, por ocasião, trabalham igualmente sob o conceito de memória e ausência de seus objetos tridimensionais em ambiente intimista e de baixa luminosidade. Paralisados no tempo gavetas suspensas, retiradas de criados-mudos, transportam lembranças de fatos passados e recentes, de imagens, escritos e de outros objetos que as fendas não conseguiram carregar. Esses sons manifestados fazem as vezes dessa memória, agora formada por peças sonoras.

Seja qual for a modalidade nessa exposição, pintura, escultura ou instalação alcançam juntas, num espaço em consonância, uma permanência gradual da forma física e notável, que advém do século XX, um labirinto de sensações que parte de uma abertura como oferenda ao “pélago”, um universo aberto, convite a penetrar o feitio da forma por meio dos mensurados interstícios, que derivam do ser humano e suas relações na ação de convertê-los em coisas. Essência e memória reconfiguram o lugar desses objetos insólitos. 

Essas aberturas funcionam como prolongamento do corpo, pois nelas subsistem constructos, sejam nas cadeiras, nas gavetas ou nos objetos pictóricos de Alexis. Nessas obras o formato envolve a presença da matéria como também seu desenho quase “altiplano”. Acontece que o ponto sinuoso entra em ação quando adentramos essas formas vazadas de conteúdo utilitário, como num labirinto. 

No mito do Minotauro (que por Teseu se diluiu em vasta medida) a ideia de Labirinto se liga à representação da mente. Teseu foi o responsável por dar aos homens a oportunidade de livrar-se do “selvagem”. A irracionalidade, a “loucura”, próprias da arte, conquistam nessas obras um plano em potência, apoderando-se desses processos, onde o pensamento, através de seu emaranhado, fez conduzir a desrazão ao seu retorno.

Nesse contexto cada trabalho exposto suscita no outro essas relações de reciprocidade sensorial, que reage conforme recebe essas conexões, afinando-se a uma malha apurada de subjetivações e trânsitos intermidiáticos. Constituindo-se num espaço de mútuas reverberações.

Marta Strambi outubro de 2012 
Artista e Doutora em Artes.

Alexis Iglesias, Luciano Zanette, Marcelo Armani